Rede
Humana – Poder, 2018.
Pintura com dupla face, têmpera sobre musseline com notas
emitidas pelo Banco de Angola antes da independência,150 x
150 cm.
Rede Humana e Homem Convictos
As
redes humanas têm vindo a ser recorrente no trabalho que desenvolvo desde 2006.
Em pequeno formato ou em escalas 1:1, têm grande proximidade ao têxtil, não
apenas pelos materiais e processos em si, mas fundamentalmente no conceito
inerente. Abordando o têxtil na arte contemporânea a um nível teórico e
entendendo-o como síntese da fenomenologia que se observa na estrutura do
universo e de tudo o que o compõe, considera as redes humanas como elemento
semântico de grande relevância na figuração iconográfica do desenvolvimento da
expressão das interações sociais, políticas e económicas complexas e invenções
de novos sistemas de análise de mundos.
As
notas de papel remetem literalmente para o tema proposto – o dinheiro. Dinheiro
é unidade de troca e quantifica e equipara a mesma. É, portanto, um elemento de
aferição de qualquer transação, compromisso ou favor. As cédulas (notas) que
incluímos nesta obra são emitidas pelo Banco de Angola e, sendo ainda quando o
território fazia parte das colónias portuguesas em África, foram aquelas que
fizeram a transição em 1975 para a independência e que por isso deixaram de
circular e de poder validar o seu valor facial. Havendo um plafond para a sua troca pela nova moeda, nem todas puderam ser
trocadas e muitos dos colonos que retornaram para a Europa ficaram com pequenas
fortunas em maços destas notas que deixaram de ter valor.
Portanto,
dinheiro é coisa pública e oficial, apenas fiduciário, que deixa de ter valor
por decreto mas, embora haja essa consciência difusa, observamos que se fazem
as maiores acrobacias, legais e ilegais, para se obter o máximo dinheiro
possível. Para se ter o poder que o dinheiro dá. Será que se é poderoso através
do dinheiro?
A
interação desenvolve-se em redes, formadas por figuras humanas que se agarram
ao topo e entre si, tentando que as debaixo não alcandorem mais alto. Este
trabalho é um exercício estético reflexivo desse mundo inexplicavelmente real
que toda a gente, inserida no sistema das sociedades atuais, usa e aplica à sua
atitude de vida.
Homo Convictos, 2018,
desenvolveu-se tendo por base a esquematização realizada por Leonardo da Vinci
do conceito de Homem Vitruviano.
A
figura renascentista apoderou-se da geometria que a integrava no conceito,
apoia-se nela e faz acrobacias. Nas sociedades atuais esse Homem, centro do
mundo, conhecedor de si, racional e intuitivo, assume em absoluto a sua
dinâmica, apropriando-se do espaço semântico e pervertendo o conceito
filosófico inerente. O dinheiro trouxe-lhe a segurança da convicção através da
estranha sensação de riqueza e poder.
Dora Iva Rita, 2018
Homo Convictos, 2018.
Pintura com dupla face, têmpera sobre musseline com notas emitidas pelo Banco de Angola antes da independência,150 x 150 cm.
Human Power is a network that has been recurring in my work since 2006. In small
format or on 1:1 scales, they have great proximity to the textile, not only by
the materials and processes themselves, but fundamentally in the inherent
concept. Approaching textiles in contemporary art at a theoretical level and
understanding it as a synthesis of the phenomenology that is observed in the
structure of the universe and of everything that composes it, considers the
human networks as a semantic element of great relevance in the iconographic figuration
of the development of complex social expression, political and economic
interactions and inventions of new systems of analysis of worlds.
The paper notes refer literally to
the proposed theme - money. Money is a unit of exchange and it quantifies and
equates it. It is, therefore, an element of gauging any transaction, compromise
or favor. The banknotes that we include in this work are issued by the Bank of
Angola and, even though the territory was part of the Portuguese colonies in
Africa, were those that made the transition in 1975 to independence and
therefore stopped circulating and validate your face value. There was being a
limit for their exchange into new currency, not all of them could be exchanged,
and many of the settlers who returned to Europe were left with small fortunes
in bundles of these notes which were no longer value.
Therefore, money is a public and
official thing, only fiduciary, which ceases to have value by decree but,
although there is this diffuse awareness, we observe that the greatest legal
and illegal acrobatics are done in order to obtain the maximum money possible.
To have the power that money gives. Is it powerful through money?
The interaction develops in networks,
formed by human figures that cling to the top and to each other, trying that
the lower ones do not reach higher. This work is a reflective aesthetic
exercise of this inexplicably real world that everyone, inserted in the system
of present societies, uses and applies to their attitude of life.
Homo Convictos was developed based on Leonardo da Vinci's conceptualization of the
Vitruvian Man concept.
The Renaissance man took over the
geometry that integrated it into the concept, leaning on it and doing
acrobatics. In today's societies, this man, center of the world, knower of
himself, rational and intuitive, assumes its dynamics at all, appropriating the
semantic space and perverting the inherent philosophical concept. Money brought
him the assurance of conviction through the strange sense of wealth and power.
Dora Iva Rita, 2018
Dora-Iva
Rita é artista plástica-pintora licenciada pela Faculdade de Belas Artes da Universidade
de Lisboa (1981); mestre em História da Arte pela Faculdade de Ciências Sociais
e Humanas da Universidade Nova de Lisboa (1987); pós graduada em Psicologia da
Consciência Universidade Autónoma de Lisboa (2006); PhD em Belas Arte/Pintura
pela FBAUL (2016). Atividades no âmbito das artes plásticas, ensino artístico e
investigação. Integra o Centro de Investigação e Estudos em Belas Artes
(CIEBA). Dinamiza, em parceria com o pintor Ilídio Salteiro, diversos projetos
artísticos e culturais. Mantém desde 1981 uma atividade criativa constante no
domínio das artes plásticas, pintura, arte têxtil e cerâmica. Participou em
muitas exposições colectivas, tendo realizado 14 individuais, e 12 intervenções
de arte pública.